sexta-feira, 17 de junho de 2011

SIMPLESMENTE O CARRASCO DO FUNK

Em 1987, comandei meu primeiro baile funk sozinho. O lugar era na Praia de Ramos, um caixote de concreto, não tinha janela nem nada, só uma portinha, o povo chamava de Forninho. Toquei lá um ano, recebi elogios e fui virando profissional. Enquanto isso, também estudava à noite, trabalhava como office-boy e servi ao Exército. Nunca desisti até conseguir viver só de funk, lá pra 1992.

Ser carioca é o que faz o funk dos bailes ser sintonizado com o mundo, não por causa desse ou daquele bairro, artista ou estilo. De algum jeito o nosso povo faz das festas uma arte. Com pouco ensino tradicional mesmo para quem teve escola, é nas festas que a gente inventa um jeito de estudar a vida, uns com os outros. Acho que é esse jeito carioca (ou brasileiro) que atrai os gringos. Na música, esse jeito sempre teve muita percussão, com harmonias rítmicas complicadas, mesmo quando o resto todo é bem simples, tosco até. Para quem é funkeiro ou sambista, parece fácil, mas para um músico mais erudito é cheio de detalhes nos tempos e nos timbres.

No funk ainda tem os efeitos eletrônicos e as letras, que vêm diretamente do comportamento das multidões nos bailes, muita informação. E para complicar tem aquele lance de ser brasileiro e adorar novidade, estar sempre evoluindo e não ter dificuldade de misturar tudo que cai na mão — cada mês surge um pequeno detalhe e, como todo mundo absorve, passa a fazer parte do gênero todo. Como sou funkeiro, já nasci com essa antena carioca na alma. Não sei qual o beat ou estilo que vai dominar o futuro, mas esse jeito irreverente com certeza está espalhado por todo lado que eu escuto, na música do mundo hoje. Então a gente faz a música que os artistas jovens do mundo estão fazendo também.

O funk nos bailes tem linguagem própria. O circuito é como um canal de assinantes; quando se capta o sinal, não se desgruda mais da TV. E a audiência vai aumentando, diversificando: a pessoa do outro lado da tela pode estar na Ásia ou em Ipanema. E no mundo todo o povo vai traduzindo e incorporando pedaços dessa língua diferente, para usar no seu universo também. Cada um com sua cultura, sua história, do seu jeito. É assim que o baile de hoje se transforma no funk carioca espalhado pelo mundo. O funk das favelas é das favelas, cada baile tem um público, todo DJ sabe que a audiência muda tudo. A grande evolução do funk aqui nos últimos 20 anos foi se tornar brasileiro, enquanto mudava a tecnologia e a sociedade carioca.

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